domingo, 28 de outubro de 2012





Exaltação

Olhas nos meus olhos.
E, eu vejo neste instante
Toda Terra subir à um céu 
Que desconheço.

Olho nos olhos teus,
E fica distante
O mundo e todo o fél que ele contém,
Esqueço.

Sorris ...
E, contemplando teu lindo semblante,
O ideal de minha vida, 
Enfim eu reconheço.

Falas...
Ouço-te a voz, e impetuosa radiante.
Num gesto de ternura, 
Os lábios te ofereço.

Beijas a minha boca.
E neste beijo grande, todo o meu ser palpita
E freme, e vibra, e estua.

Tudo é sonho, no entanto,
O teu beijo...
O meu crime.
Mentirosa ilusão! 
Pobre ilusão que exprime somente o meu desejo de ser tua!
                                                     Yd Blumenschein                 

domingo, 21 de outubro de 2012



Primavera

Primavera gentil dos meus amores,
Arca cerúlea de ilusões etéreas,
Chova-te o céu cintilaçõess sidéreas
E a Terra chova no teu seio flores!


Explende, Primavera, os teus fulgores,
Na auréola, azul dos dias teus risonhos,
Tu que sorvestes o fel das minhas dores
E me trouxeste o nectar dos teus sonhos!


Cedo virá, porém o triste outono, 
Os dias voltarão a ser tristonhos
E tu hás de dormir eterno sono,


Num sepulcro de rosas e de flores,
Arca sagrada de cerúleos sonhos,
Primavera gentil dos meus amores! 
                           Algusto dos Anjos  



      

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


De tudo ficarão três coisas...


De tudo ficarão três coisas:
A certeza de que estamos começando,
A certeza de que é preciso continuar,
E a certeza de que podemos ser interrompidos antes de continuar.
Faça da interrupção um caminho novo.
Faça da queda um passo de dança.
Do medo uma escola,
Do sonho uma ponte,
Da procura um encontro,
E assim terá válido a pena existir!
                                                          Fernando Sabino






"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o 
desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos, na prudência egoísta
que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade"


                                                                   Carlos Drummond de Andrade  




domingo, 7 de outubro de 2012






Gosto quando te calas, porque estás como ausente,e me ouves de longe.
Minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado e parece que um beijo te fechava a boca.


Como todas as coisas estão cheias da minha alma, emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho parece com minha alma,e te
parece com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe e a minha voz não te alcança.
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.


Deixe-me que te fale também com o teu silêncio.
Claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longínquo e singelo.


Gosto de ti -Quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, em sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
                        Pablo Neruda