sábado, 21 de abril de 2012





Personagem

Teu nome é quase indiferente
e nem tem rosto mais me inquieta
A arte de amar é exatamente
a de ser poeta.


Para pensar em ti me basta
O próprio amor que por ti sinto
 És a idéia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.


O lugar da tua presença
é um deserto entre variedades:
Mas nesse deserto é que passa 
o olhar de todas as saudades


Meus sonhos viajão rumor tristes,
e, no seu profundo universo
tu, sem forma e sem nome, existes.
Silêncio, obscuro, disperso.


Teu corpo, e teu rosto, e teu nome.
Teu coração, tua existência.
Tudo, o espaço evita e consome,
e eu só conheço a tua ausência.


Eu só conheço o que não vejo,
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.
                         
                                                          Cecília Meireles



" Eu canto porque o instante existe,
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta."
 
 

domingo, 8 de abril de 2012



É a Páscoa que nos traz alegria e a certeza de que Cristo está conosco lado a lado, protegendo-nos e nos guiando no caminho do bem e do amor.

" Eis que estarei com vocês todos os dias..." ( mt 28-20)




                         
                                    FELIZ PÁSCOA !!
  







Além da Terra, além do céu


Além da Terra, além do céu, 
No trampolim do sem fim das estrelas,
No rastro dos astros
Na magnólia dos nebulosos;
Além, muito além do sistema solar,
Até onde alcançam o pensamento e coração.
Vamos!
Vamos conjugar
O verbo fundamental essencial,
O verbo trascendente,acima das gramáticas e do medo
da moeda e da política, o verbo sempre amar, 
O verbo pluri amar,
Razão de ser e de viver.
                                     Carlos Drummond de Andrade
                                 




















terça-feira, 3 de abril de 2012






O teu riso


Tira-me o pão se quiseres,
tira-me o ar,
mas não tires o teu riso.


Não me tires a rosa,
a flor da espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra a tua alegria,
a repentina onda de prata 
que em ti nasce.


A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos cansados
de terem visto a terra que não muda
Mas quando o teu riso entra
sobe ao céu a minha procura
e abre-me todas as portas da vida.


Meu amor, na hora mais obscura
desfia o teu riso,e de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, por que, e teu riso será para mim 
as minhas mãos como uma espada fresca...


Perto do mar de outono,
o teu riso deve erguer 
sua cascata de espuma...
E na primavera amor
quero teu riso como a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa da manhã...


Ri-te da noite 
do dia
da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te desse rapaz desajeitado que te ama
mas quando abro os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem ,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar, 
a luz a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria..
                    

                                                                 Pablo Neruda